A descoberta de uma proteína relacionada à flexibilidade de comportamento representa o ponto inicial no desenvolvimento de remédios que possam aliviar as barreiras sociais enfrentadas por pessoas com esquizofrenia e autismo. Pesquisadores da Universidade de Nova York focaram suas atenções em uma enzima chamada perk quinase – responsável pela regulação da síntese de proteínas – e, depois de alguns experimentos, conseguiram identificar o papel decisivo de uma proteína, a ATF4, na habilidade humana de se adaptar a mudanças na rotina diária.
“Sabemos pelos estudos que a expressão da ATF4, controlada pela perk, é menor em camundongos sem a enzima. Isso é importante porque as mutações de ATF4 têm sido ligadas à esquizofrenia em humanos. Agora, queremos identificar outras proteínas em que a expressão é alterada nos animais mutantes de perk. Essa informação poderá no fornecer metas para o desenvolvimento de medicação”, explica Eric Klann, um dos coautores do estudo e professor da Universidade de Nova York, em entrevista ao Estado de Minas.
Rotinas
A flexibilidade de comportamento nos permite modificar ações e ajustá-las a circunstâncias que são parecidas, mas não idênticas a experiências anteriores. Pessoas com essa flexibilidade debilitada tendem a preferir rotinas e não tolerar bem as adversidades. Klann cita o exemplo de um indivíduo que faz sempre o mesmo caminho para o trabalho. “Um dia, ele descobre que uma das ruas que usa no trajeto está fechada para obras e, por esse motivo, terá que usar um caminho que não é familiar. A situação pode levar a diversas rotas até que a pessoa seja capaz de traçar o novo trajeto, mas, eventualmente, isso acontecerá. Se ela não for capaz de modificar o seu comportamento, provavelmente voltará dia após dia para a rua bloqueada, sem conseguir chegar ao escritório”, explica.
Klann e sua equipe descobriram que essa dificuldade está, em parte, ligada à síntese de uma proteína que produz mudanças em nossa função neurológica e comportamental relacionada a experiências anteriores. Para isso, compararam o comportamento de camundongos normais ao daqueles sem a enzima perk, que faz a síntese da proteína identificada. Em dois diferentes experimentos, foi observado que os animais com a ausência de perk mostram dificuldade ou total inabilidade em modificar suas ações e adaptá-las às novas situações apresentadas pelo grupo de cientistas.
Os animais foram levados a percorrer um labirinto aquático com uma plataforma que os levaria para forada água. Num primeiro momento, todos conseguiram sair com facilidade. Ao modificar o local da plataforma, os cientistas buscaram testar a resposta dos dois grupos a uma mudança no terreno percorrido. Os camundongos com a ausência de perk não foram capazes de finalizar o labirinto ou demoraram um tempo consideravelmente maior para concluir a tarefa se comparado ao período gasto pelo outro grupo de cobaias.
Um segundo teste teve resultado similar. Os animais escutavam um sinal sonoro e, em seguida, uma leve batida de pé. Instantaneamente, todos camundongos congelaram – uma resposta normal de medo. A batida de pé, no entanto, foi logo retirada do experimento, fazendo com que os animais ouvissem apenas o sinal sonoro. Com o tempo, os camundongos com a enzima perk se adaptaram à situação. O outros não.
Para confirmar os resultados em humanos, os cientistas buscaram um suporte adicional. Analisaram amostras do córtex pré-frontal de cadáveres de humanos que tiveram esquizofrenia e compararam com a mesma região do cérebro de quem não viveu o distúrbio. Os estudos mostraram que o segundo grupo de controle possuía níveis normais de perk, enquanto os pacientes esquizofrênicos tinham níveis significativamente reduzidos.
Reações distintas
O psiquiatra João Quevedo, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, explica que, apesar de sofrerem da mesma dificuldade, a inflexibilidade de comportamento se apresenta de forma diferente entre os pacientes com esquizofrenia e aqueles com o autismo. Os primeiros também têm uma grande dificuldade em modificar a forma, de adquirir novos hábitos, mas suas respostas normalmente estão na não concretização das tarefas. Podem até incluir uma nova atividade no dia a dia, embora a realizem apenas por poucas vezes. Já as pessoas com autismo têm uma estratégia de funcionamento, uma rotina fixa que tende a ser repetida todos os dias.
“É uma lógica diferente. Na esquizofrenia, o paciente não consegue desenvolver nem modificar. No autismo, existe um jeito de funcionar que a pessoa não consegue mudar, são comportamentos repetitivos. No caso de ser forçado a essa mudança, o paciente pode ficar agitado, agressivo e se tornar ainda mais repetitivo”, detalha Quevedo. A medicação seria uma importante ferramenta na socialização desses pacientes que, devido ao transtorno psiquiátrico e à incapacidade de adaptação, não conseguem obter espaço na sociedade, sendo na maioria dos casos impossibilitados até mesmo de trabalhar.
Atualmente, pessoas acometidas com ambos os distúrbios são tratadas com terapia comportamental, que ainda apresenta resultados limitados. Quevedo explica que, durante o tratamento do esquizofrênico, é possível fazer com que ele deixe de ter alucinações e ideias paranoicas, mas a reinserção social continua sendo a maior dificuldade. “Hoje em dia, tentamos modificar o comportamento do paciente, porém os resultados são limitados. Provavelmente, a partir dessas evidências é possível que uma terapia biológicanos leve a melhores resultados na terapia comportamental. É possível, inclusive, que a questão biológica tenha sido um dos limitantes até hoje para o avanço dessa terapia.”
A flexibilidade de comportamento nos permite modificar ações e ajustá-las a circunstâncias que são parecidas, mas não idênticas a experiências anteriores. Pessoas com essa flexibilidade debilitada tendem a preferir rotinas e não tolerar bem as adversidades. Klann cita o exemplo de um indivíduo que faz sempre o mesmo caminho para o trabalho. “Um dia, ele descobre que uma das ruas que usa no trajeto está fechada para obras e, por esse motivo, terá que usar um caminho que não é familiar. A situação pode levar a diversas rotas até que a pessoa seja capaz de traçar o novo trajeto, mas, eventualmente, isso acontecerá. Se ela não for capaz de modificar o seu comportamento, provavelmente voltará dia após dia para a rua bloqueada, sem conseguir chegar ao escritório”, explica.
Klann e sua equipe descobriram que essa dificuldade está, em parte, ligada à síntese de uma proteína que produz mudanças em nossa função neurológica e comportamental relacionada a experiências anteriores. Para isso, compararam o comportamento de camundongos normais ao daqueles sem a enzima perk, que faz a síntese da proteína identificada. Em dois diferentes experimentos, foi observado que os animais com a ausência de perk mostram dificuldade ou total inabilidade em modificar suas ações e adaptá-las às novas situações apresentadas pelo grupo de cientistas.
Os animais foram levados a percorrer um labirinto aquático com uma plataforma que os levaria para forada água. Num primeiro momento, todos conseguiram sair com facilidade. Ao modificar o local da plataforma, os cientistas buscaram testar a resposta dos dois grupos a uma mudança no terreno percorrido. Os camundongos com a ausência de perk não foram capazes de finalizar o labirinto ou demoraram um tempo consideravelmente maior para concluir a tarefa se comparado ao período gasto pelo outro grupo de cobaias.
Um segundo teste teve resultado similar. Os animais escutavam um sinal sonoro e, em seguida, uma leve batida de pé. Instantaneamente, todos camundongos congelaram – uma resposta normal de medo. A batida de pé, no entanto, foi logo retirada do experimento, fazendo com que os animais ouvissem apenas o sinal sonoro. Com o tempo, os camundongos com a enzima perk se adaptaram à situação. O outros não.
Para confirmar os resultados em humanos, os cientistas buscaram um suporte adicional. Analisaram amostras do córtex pré-frontal de cadáveres de humanos que tiveram esquizofrenia e compararam com a mesma região do cérebro de quem não viveu o distúrbio. Os estudos mostraram que o segundo grupo de controle possuía níveis normais de perk, enquanto os pacientes esquizofrênicos tinham níveis significativamente reduzidos.
Reações distintas
O psiquiatra João Quevedo, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, explica que, apesar de sofrerem da mesma dificuldade, a inflexibilidade de comportamento se apresenta de forma diferente entre os pacientes com esquizofrenia e aqueles com o autismo. Os primeiros também têm uma grande dificuldade em modificar a forma, de adquirir novos hábitos, mas suas respostas normalmente estão na não concretização das tarefas. Podem até incluir uma nova atividade no dia a dia, embora a realizem apenas por poucas vezes. Já as pessoas com autismo têm uma estratégia de funcionamento, uma rotina fixa que tende a ser repetida todos os dias.
“É uma lógica diferente. Na esquizofrenia, o paciente não consegue desenvolver nem modificar. No autismo, existe um jeito de funcionar que a pessoa não consegue mudar, são comportamentos repetitivos. No caso de ser forçado a essa mudança, o paciente pode ficar agitado, agressivo e se tornar ainda mais repetitivo”, detalha Quevedo. A medicação seria uma importante ferramenta na socialização desses pacientes que, devido ao transtorno psiquiátrico e à incapacidade de adaptação, não conseguem obter espaço na sociedade, sendo na maioria dos casos impossibilitados até mesmo de trabalhar.
Atualmente, pessoas acometidas com ambos os distúrbios são tratadas com terapia comportamental, que ainda apresenta resultados limitados. Quevedo explica que, durante o tratamento do esquizofrênico, é possível fazer com que ele deixe de ter alucinações e ideias paranoicas, mas a reinserção social continua sendo a maior dificuldade. “Hoje em dia, tentamos modificar o comportamento do paciente, porém os resultados são limitados. Provavelmente, a partir dessas evidências é possível que uma terapia biológicanos leve a melhores resultados na terapia comportamental. É possível, inclusive, que a questão biológica tenha sido um dos limitantes até hoje para o avanço dessa terapia.”
Postado Por: Tatiane Ribeiro Alves
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