Tema aparentemente claro, sujeito a poucas especulações, a nutrição infantil passou a ser objeto
de novos e surpreendentes estudos nos últimos 20 anos, desde que foi sugerida por Barker, em 1989,
a relação entre baixo peso ao nascer e maior incidência de doenças cardiovasculares. Posteriormente,
o mesmo autor demonstrou que o ganho de peso excessivo no início da vida era um fator importante
de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis na idade adulta. A situação
dos indivíduos que, além de nascidos com baixo peso, recebiam alimentação inadequada predispondo
ao grande ganho de peso nos dois primeiros anos de vida, demonstrou-se ainda pior, por juntar essas
duas situações nutricionalmente deletérias, com risco para sua saúde na vida adulta. O conhecimento
destes fatos determina, entre outras situações, as recomendações atuais de ingestão dos
macronutrientes para crianças. A ideia, de décadas atrás, de que mais é melhor em termos de calorias
e proteínas não é mais aceita. Admite-se que a ingestão proteica excessiva, precocemente, possa levar
a aumento da concentração de aminoácidos com estímulo para a secreção de insulina e de IGF-1,
levando a maior estatura no início da vida acompanhada de maior atividade adipogênica.
A alimentação correta deve conter nível adequado de proteínas tanto de origem animal (carne,
leite, ovos, derivados de leite) como de origem vegetal (arroz, feijão, soja, hortaliças), que podem ser
combinadas, superando-se, assim, a carência de aminoácidos essenciais que eventualmente possa
ocorrer. Isto acontece na alimentação típica do brasileiro, com a mistura de arroz e feijão, acrescida da
ingestão de proteínas animais de alto valor biológico, o que garante a obtenção dos aminoácidos
necessários à síntese proteica em qualidade e quantidade adequadas.
Devemos considerar que as preferências alimentares são o maior determinante da ingestão
alimentar. Crianças geralmente consomem os alimentos que mais lhe apetecem, os de alto valor
energético, ricos em carboidratos e gorduras. Esses alimentos, além de serem mais palatáveis, são
associados a festas e ocasiões especiais, o que lhes confere maior facilidade de aceitação, pelas
associações feitas com o prazer vivenciado no momento do seu uso. Devemos lembrar que, além da
preferência inata pelo sabor doce, o ser humano já nasce com comportamento alimentar neofóbico
que representa, provavelmente, um mecanismo de preservação da espécie por evitar a ingestão
acidental de substâncias tóxicas. A exposição repetida aos alimentos rejeitados é a chave para a
superação desta situação.
A fase de crescimento associada à atividade física, tamanho corporal e gasto energético basal são
os principais determinantes das necessidades nutricionais das crianças. Com relação às proteínas,
preconiza-se manter seu consumo em níveis moderados, não excedendo o dobro das cotas
recomendadas (RDA). O requerimento de proteínas é determinado pela quantidade necessária para
manter o crescimento dos novos tecidos, que durante a adolescência podem representar grande parte
da necessidade total. A energia proveniente das proteínas deve corresponder a 10 ou 15 % do total da
energia da dieta durante a infância e a adolescência. Deve ser orientada a alimentação no sentido de
equilibrá-la do ponto de vista calórico, para que haja o melhor aproveitamento das proteínas ingeridas
e para que o crescimento se dê harmonicamente, sem riscos de desencadear obesidade.
Postado por: Tatiane Ribeiro Alves
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