A resposta de fase aguda refere-se a uma reação complexa e inespecífica de um organismo animal e se desenvolve rapidamente após qualquer injúria tecidual. A origem desta resposta pode ser atribuída a causas infecciosas, imunológicas, neoplásicas, traumáticas ou outras e o seu propósito é restaurar a homeostase e remover a causa do desequilíbrio (CERÓN et al., 2005). Como conseqüência deste processo, ocorrem diferentes efeitos sistêmicos que incluem febre, leucocitose, aumento do cortisol sangüíneo, diminuição nas concentrações de tiroxina, mudanças metabólicas (lipólise, glicogenólise, catabolismo muscular) e redução nas concentrações séricas de ferro e zinco. A resposta também inclui variações nas concentrações de proteínas plasmáticas, conhecidas como proteínas de fase aguda (PFA) (ECKERSALL, 1995).
A resposta de fase aguda é muito rápida. Desenvolve-se antes do estímulo da resposta imune específica e, em muitos casos, antes do início dos sinais clínicos; por isso, as PFA podem ser consideradas marcadores precoces de qualquer processo patológico ou doença. Podem ser muito úteis na detecção antecipada de doenças subclínicas ou de alterações no estado de saúde do animal, além de servirem como ferramentas importantes no manejo do paciente e monitoramento do tratamento (CERÓN et al., 2005).
A maioria dessas proteínas é formada por glicoproteínas sintetizadas, principalmente, por hepatócitos (JAIN, 1989) e sua produção é mediada por citocinas pró-inflamatórias, sendo as mais importantes as interleucinas (IL-6, IL-1) e o fator de necrose tumoral (TNF)-a (CERÓN et al., 2005). Dependendo da espécie animal, as PFA são consideradas indicadoras fiéis da resposta sistêmica frente aos processos inflamatórios e infecciosos, quando comparadas a outras variáveis, tais como febre, aumento na taxa de hemossedimentação e/ou presença de leucocitose associados à neutrofilia (JAIN, 1989).
As citocinas pró-inflamatórias (Il-1, Il-6 e TNF-a) são liberadas pelos fagócitos presentes nos tecidos inflamados durante os processos inflamatórios local ou sistêmico. Estas citocinas são liberadas na circulação sistêmica e induzem uma seqüência de eventos, dentre eles a “resposta de fase aguda” (RFA), e envolvem diferentes sistemas homeostáticos. O objetivo final é estabelecer um estímulo rápido e intenso de uma resposta protetora. Um dos principais aspectos da RFA é a modulação de síntese de proteínas pelos hepatócitos. Como conseqüência, as concentrações de algumas proteínas plasmáticas, tais como as PFA, variam mais de 25% quando comparadas com as concentrações basais.
A modulação da produção das proteínas pelo fígado depende de uma ação sinérgica entre essas citocinas: TNF-a induz proteólise periférica, aumentando o fluxo de aminoácidos para o fígado; IL-1 inibe a síntese de PFA negativas e estimula a síntese de PFA positivas em colaboração com osglicocorticóides, também produzidos como conseqüência da ativação mediada pela IL-1 do eixo hipófise-adrenal; IL-6 está envolvida na liberação de PFA dos hepatócitos (PALTRINIERI, 2007).
As PFA negativas são aquelas que apresentam diminuição das suas concentrações durante a RFA (albumina e transferrina) e as PFA positivas são aquelas que aumentam suas concentrações (proteína C-reativa, amilóide sérico A, haptoglobina, a1-glicoproteína ácida, ceruloplasmina e fibrinogênio). Embora, convencionalmente, a produção das PFA seja derivada de hepatócitos, há evidências da sua produção por outros tecidos. Este evento, em conjunto com a produção hepática, pode contribuir para a manutenção da homeostase por reduzir o dano tecidual associado ao processo inflamatório (CÉRON et al., 2005).
Assim como a temperatura retal, as concentrações de PFA não são suficientes para o estabelecimento do diagnóstico específico, mas podem prover informações objetivas sobre a extensão de injúrias nos animais. Em termos de rebanho, as PFA podem ser úteis para determinar se está ocorrendo uma difusão de determinada doença, por fornecer informações sobre a prevalência de infecções clínicas ou subclínicas indicadas pelas altas concentrações séricas de determinadas PFA e por servir como uma ferramenta prognóstica, com a magnitude e duração da RFA refletindo a severidade da infecção. A possibilidade de influência de fatores ambientais, de manejo e de outros tipos de estresse na ausência de doença são pontos importantes que devem ser considerados antes da utilização das PFA como marcadores objetivos e não-específicos da saúde animal (PETERSEN et al., 2004).
Apesar desta falta de especificidade poder representar uma limitação significativa, ela também é uma vantagem do ponto de vista diagnóstico, uma vez que o aumento dessas proteínas significa que o organismo está combatendo um evento potencialmente perigoso. Basicamente, a mensuração de PFA positivas tem o papel oposto das técnicas de sorologia, bacteriologia e patologia clínica, que demonstram que um patógeno específico infectou o organismo e/ou danificou algum órgão ou sistema. No caso das PFA, as altas concentrações dessas proteínas embora não nos ajudem a compreender qual patógeno está (ou estava) presente, elas demonstram que o organismo ainda está lutando contra o patógeno (PALTRINIERI, 2007).
As PFA não são úteis somente para monitorar processos inflamatórios de propósitos diagnósticos ou prognósticos, mas também para analisar várias condições não inflamatórias como gestação, parto, doenças metabólicas ou estresse, as quais foram previamente consideradas não alterarem as concentrações de PFA. Futuras aplicações do uso de PFA não serão restritas ao seu atual uso em diagnóstico, prognóstico ou monitoramento da eficácia do tratamento na doença animal. Como exemplo, a avaliação de PFA pode ser utilizada para identificar doença e estado de saúde de animais ao abate, garantindo a segurança da carne para a saúde pública (MURATA et al., 2004).
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